Jovem implanta sistema agroecológico que favorece população local e meio ambiente
- Expresso UFC
- 10 de abr. de 2021
- 3 min de leitura
Por Beatriz Napoleão, Erico Cardoso e Lidia Hellen
A qualidade de vida do brasileiro veio diminuindo com a grande quantidade de agrotóxicos liberados em território nacional. Somente no ano passado, Jair Bolsonaro, através do Ministério da Agricultura, liberou quase 500 novos agrotóxicos para serem utilizados em solo brasileiro. Já se sabe que o uso de agroquímicos causam diversas complicações para a vida do consumidor, entre elas estão a infertilidade, má formação do feto, câncer e até o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Entretanto, ainda não foi encontrada uma alternativa forte o bastante para substituir de forma sustentável os agrotóxicos nas grandes fazendas. No Brasil, se tem poucos projetos de agricultura sustentável. O Movimento dos Sem Terra (MST) que mensalmente vende seus produtos orgânicos e sustentáveis em uma feira em Fortaleza é um dos exemplos de maior notoriedade.
No interior do estado do Ceará, foi criado um projeto que oferece solução, o Balaio Agroecológico na cidade de Iguatu. Estabelecendo a ponte entre consumidores locais, o projeto do estudante de Ciências Biológicas da Faculdade De Educação, Ciências e Letras de Iguatu (Fecli/Uece), Dauyzio Alves da Silva, 33, nasceu com o intuito de ajudar a economia local de Iguatu, fornecendo alimentos livres de agrotóxicos e com preços acessíveis, produzido por fazendas locais para os moradores da região.
Desde o início, o projeto conta com a participação de seis famílias que fornecem cerca de 20 produtos, desde hortaliças, frutas e grãos, mudas e sementes, bolos, conservas e molhos, até a inserção de plantas alimentícias não convencionais como a vinagreira, produção de bebidas probióticas, como o frisante e a realização de cursos de agricultura para a comunidade em geral. Seguindo a base de algumas técnicas da agroecologia, são usados desde a nutrição correta do solo, com adubação orgânica e a pulverização com fertilizantes feitos de esterco, todos biodegradáveis. O KNF (Agricultura Natural Coreana), é um dos métodos usados pelo balaio para nutrir as plantas e aumentar a produção de forma saudável.
A produção das bebidas probióticas é feita com bases bibliográficas, um dos livros citados por Dauyzio como fonte de pesquisa são “Plantas alimentícias não convencionais no Brasil”, de Valdely Kinupp e Harri Lorenzi e “Fermentação à Brasileira”, de Fernando Goldenstein e Leonardo Alves de Andrade.
Antes da criação do projeto, o estudante, com sua companheira Michelle Maciel e com o casal de amigos Célia Duarte e Junior Cesar, mantinha uma pequena horta para consumo próprio. Ao participar da organização da I Ecofeira de Iguatu, promovida pelo grupo de pesquisa Ecologia e Conservação de Ecossistemas (ECOEM/Fecli/Uece), Dauyzio enxergou novas e empolgantes possibilidades. A busca por alimentos livres de agrotóxico impulsionou a formação do projeto. Pouco depois da feira foi implantado o sistema de entregas. “O Balaio começou com o pensamento em agricultura ecológica que a gente já tinha, eu já tinha uma formação prévia de agricultura ecológica, sou técnico agrícola além de estudante de biologia”, explica Dauyzio Silva.
O estudante explica que um dos primeiros passos após a criação do projeto foi identificar outros produtores familiares que utilizam agricultura de base ecológica, e que devido a diversos fatores não conseguiam comercializar os excedentes de forma satisfatória. Dauyzio, então, ampliou sua horta e passou também a comprar e vender o que era produzido, e não consumido, por essas famílias. O início do projeto contou com diversos problemas, mas que foram melhorando e hoje ajudam a abastecer a comunidade local com alimentos livres de agrotóxicos. Além disso, existe a necessidade de uma fonte alternativa de renda para famílias de pequenos agricultores, uma vez que a pandemia do novo coronavírus danificou o desenvolvimento da economia local. É uma rede de apoio que proporciona o desenvolvimento econômico e social de diversas formas.
A presença do projeto em redes sociais, como o Instagram, foi um diferencial durante a pandemia, já que eles promoviam os produtos e agendavam entregas pelo aplicativo e pelo WhatsApp, facilitando, assim, a comunicação com os clientes. São vendidas em média 70 cestas por semana, o valor varia de acordo com a particularidade de cada cesta montada pelo consumidor. “Os produtos são muito bons, a gente consome sem nenhum medo de ingerir alimentos contaminados”, conta a servidora pública Gizeuda Melo. A entrega é feita diretamente na casa do comprador.

O projeto continua, mesmo com o apertamento das medidas contra a Covid-19 no Estado do Ceará, Dauyzio se mostra otimista. "Estamos tentando mostrar que a proposta do Balaio é uma proposta viável, se der certo a gente acha que vai fomentar outras iniciativas também”, completa o idealizador.
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