De Atenas à 2024: A história da mulher nas Olimpíadas e a busca pela igualdade de gênero no esporte
- Expresso UFC
- 12 de abr. de 2021
- 4 min de leitura
Beatriz Reis, Jeferson Falcão, Letycia Souza e Mariana Matias.

HISTÓRIA DOS JOGOS
A história dos Jogos Olímpicos explicita o estigma de que esporte não é lugar de mulher (Os primeiros registros históricos das Olimpíadas são de 776 a.C.). Em Atenas, onde eles surgiram, as mulheres eram proibidas de participar ativa e passivamente do evento. As mulheres casadas poderiam ser punidas com pena de morte se assistissem aos jogos.
RETORNO DOS JOGOS NA ERA MODERNA
O retorno dos Jogos Olímpicos na Era Moderna em Atenas aconteceu no ano de 1896, por influência de Pierre de Frédy, conhecido também como pai da Olimpíada Moderna. Porém, seguindo o mesmo critério de uma sociedade feita por homens e para homens, as mulheres ainda eram excluídas dos jogos. O único incentivo que as mulheres recebiam era o de procriar e incentivar seus filhos a serem atletas.
PRIMEIRA PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NAS OLIMPÍADAS
A primeira participação feminina na história dos Jogos foi em 1900, em Paris, em que houve apenas 2,2% de representantes mulheres, equivalente a 22 atletas. Essa participação foi contra a vontade do idealizador das Olimpíadas, Pierre de Coubertin. Além de ter demonstrado explicitamente seu desgosto, Coubertin tinha uma frase famosa e cheia de preconceitos sobre a participação de mulheres no ambiente esportivo:
“É indecente ver mulheres torcendo-se no exercício físico do esporte”.
Essa frase alega e reforça a opressão sob o corpo feminino como algo feito apenas para a maternidade e não para o esporte ou ambientes competitivos. Porém, a primeira participação da mulher nos Jogos Olímpicos mostrou que elas vieram para ficar. Com o passar dos anos os números de representantes femininas no evento oscilaram, até chegar a 45% de participação feminina na edição dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016.
A BUSCA PELA IGUALDADE DE GÊNERO NOS JOGOS OLÍMPICOS
Os tempos mudaram na história dos Jogos Olímpicos e nas olimpíadas de TÓQUIO 20, as mulheres serão 48,8% dos atletas participantes dos jogos, batendo o recorde de presença feminina desde a primeira edição das Olimpíadas. Esse número tornou-se possível devido a mudanças feitas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), como a adição de provas mistas e a inclusão de outras modalidades, como o karatê. Estima-se que nas olimpíadas de PARIS-24 teremos pela primeira vez paridade total no número de atletas femininas e masculinas, na mesma cidade em que a mulher participou pela primeira dos Jogos.

A atleta profissional de Kung-fu e Boxe chinês, Maristela Alves (29), afirmou que o machismo perpetua dentro do ambiente esportivo e faz parte do cotidiano das atletas.
“Você ter que conviver dentro desse espaço, de um esporte que era dominado por homens (kung-fu e boxe), é bem complicado. Até hoje eu vivo de preconceitos, a minha opção sexual é colocada em dúvida pelo fato de ser mulher. Recebo várias piadas dizendo que meu braço é mais forte do que de muito homem, que mulher não deveria ser forte, mulher deveria ser mais feminina. Até hoje eu sofro com esse machismo. Alguns homens que acham que eu não sei lutar, alguns homens falam que mulher não é para tatame. Então a gente sempre vai viver com isso.” relata Maristela.
Porém, apesar da igualdade em números ser uma conquista extraordinária para as atletas, Maristela fala que o ambiente esportivo ainda é extremamente machista e excludente. As atletas são masculinizadas, tem sua sexualidade questionada e sofrem com as imposições sobre o corpo feminino como algo que não pertence ao esporte.

Maristela também conta que hoje aprendeu a ignorar os preconceitos e seguir em frente, mas relata que quando mais nova foi difícil manter o estímulo para continuar. Isso mostra que além das mulheres não receberem incentivo para participarem do ambiente esportivo, quando elas já estão presentes no esporte recebem pouco suporte e apoio, o que acaba afastando várias jovens.
A Jornalista Esportiva, Liana Coelho (36), ofereceu um conselho às meninas que querem ingressar no esporte:
“O meu conselho é na verdade algo que levo na minha vida sempre… Lutar sempre! Então, meu desejo pras mulheres, pras meninas que sonham em trabalhar com esporte de alguma forma sendo atleta, sendo profissional é que sonhe e realize. Não vai ser fácil, vão ter empecilhos, vão ter diversos obstáculos, mas você pode, você consegue… A sua capacidade é muito real, não deixe que as pessoas falem que você não consegue, pelo contrário, lute, se entregue, faça o seu melhor que com certeza se for pra ser você vai conseguir. Então não desista dos seus sonhos nunca.”

Entretanto, apesar das mudanças implementadas pelo COI para incentivar e acessibilizar a participação feminina nos Jogos Olímpicos serem uma grande vitória para as atletas, ainda há muito o que ser conquistado para tornar o ambiente esportivo mais inclusivo.
A professora e lutadora faixa-preta de karatê, Mikaelle Sousa (23), acredita que a participação feminina no esporte é um avanço para a humanindade, mas que para alcançar um ambiente esportivo justo com as mulheres precisa de mais.

“Informação e incentivo. A informação é algo necessário e esclarecedor, mas o incentivo impulsiona e encoraja que outras mulheres busquem o esporte e se sintam à vontade com uma determinada modalidade, ou se não, várias.” conta a atleta.
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