É o coronavírus que impede a educação no Brasil?
- Expresso UFC

- 4 de nov. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 5 de nov. de 2020
Governo volta atrás e aulas presenciais continuam suspensas. O problema é mais complicado
Por Erico Cardoso

O Governo do Estado do Ceará, nesta quarta-feira (30), optou por não retornar com as aulas presenciais da rede pública. As escolas particulares continuam liberadas para o retorno. No dia 19 de setembro, o governador Camilo Santana declarou que ampliaria a oferta de mais séries no dia 1° de outubro. Contudo, a Secretaria de Educação de Fortaleza declarou que as escolas da rede pública irão continuar com o ensino remoto e que com os novos equipamentos vão contribuir para o acesso dos alunos. O Governo ainda não apontou uma data para retorno das aulas presenciais na rede estadual. As aulas presenciais no Estado do Ceará estavam suspensas desde o dia 19 de março.
Para continuar com o andamento do semestre letivo e com a preparação dos alunos que se encontram na fase de pré-vestibular, diversas escolas particulares adotaram o método de ensino EAD. No ensino público, a realidade é outra. O Brasil, em 2019, apresentou o maior índice de acesso à internet em toda sua história, com 71% dos brasileiros tendo acesso à rede, mas a realidade em 2020 é outra. A pesquisa feita pelo Comitê Gestor da Internet não poderia prever, porém, que 53,9 milhões de brasileiros teriam suas rendas interrompidas para viver com R$600,00 do auxílio emergencial dado pelo Governo Federal.
A prefeitura de Fortaleza, para permanecer com o ensino remoto da rede pública, vai disponibilizar 242 mil chips com pacotes de dados de 20 gigas para os professores e alunos, além de 20 mil tablets para os alunos da 9ª série do fundamental e da Educação para Jovens e Adultos (EJA).
O que dizem os médicos
Em resposta à pressão que países de todo o mundo fazem sobre o retorno das aulas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) produziu uma cartilha com recomendações a serem seguidas pelas escolas que decidirem retornar ao ensino presencial. Essas sugestões são separadas em níveis e parte das regras são referentes à entrada no ambiente escolar e a organização de um regime de ensino misto, para alunos e professores que fazem parte do grupo de risco.
Ainda, mesmo com todas essas recomendações da OMS, é discutível que a volta às aulas presenciais seja uma opção. O pediatra Paulo de Tarso conta que ainda não existe um grande nível de imunização no estado, ainda que a curva tenha desacelerado e o número de novos casos esteja diminuindo. Sua principal preocupação é com a continuação das aulas no ano de 2021, por conta da temporada chuvosa e “da confusão entre o coronavírus e as viroses sazonais que acompanham as chuvas”. Para ele, uma criança pequena deve ser monitorada de forma diferente que adolescentes e jovens de séries mais avançadas. “O real problema está na forma de transmissão. O coronavírus pode ser passado para todos, mas nem todos reagem da mesma forma. Uma criança pega o vírus e pode ser assintomática, mas vai passar esse vírus para seus pais ou seus avós que podem ser vítimas fatais”, conta.
Com o retorno gradual das atividades econômicas no Ceará, aumentou a pressão para a reabertura de escolas e creches no estado. No dia 1° de setembro escolas infantis e creches da rede privada retornaram às atividades, contudo essas instituições continuaram com a obrigatoriedade da oferta de ensino remoto. Existem problemas que não estão sendo cogitados no ato do retorno às aulas.
A opinião dos docentes e da SEDUC
Um professor de geografia da rede pública, que concordou em dar a entrevista de forma anônima, alerta que muitas das crianças que estão retornando às aulas têm contato com os avós e outros parentes mais velhos e que, apesar das escolas seguirem as normas, ainda é uma doença nova e não se sabe muito sobre ela. O professor também fez críticas a Secretaria de Educação ao ser perguntado sobre a adaptação das escolas às normas da OMS. “ O Sindicato dos Servidores Públicos lotados nas Secretarias de Educação e de Cultura do Estado do Ceará e nas Secretarias ou Departamentos de Educação e/ou Cultura dos Municípios do Ceará fez e vem fazendo várias visitas a as unidades escolares. Eles comprovaram a total inexistência estrutural dessas escolas no que se refere ao protocolo de retorno. [...] A SEDUC sabe sim das condições de insalubridade de suas unidades escolares, porém, com a pandemia, as falhas e omissões foram evidenciadas”, completa o professor. Questionado sobre as medidas para continuação das aulas, lembrou que a pobreza ainda faz parte do país, e que muitas famílias não tem como pagar um plano de banda larga ou até mesmo de dados móveis, e que sem o apoio do congresso, é impossível manter aulas síncronas de forma que abranja toda a população.
A Coordenadora da Coordenadoria de Avaliação e Desenvolvimento Escolar para Resultados de Aprendizagem da SEDUC-CE, Kelem Freitas, explica que o ensino remoto continua uma realidade para da rede estadual e que toda a decisão para a divulgação da data será vinculada a segurança de saúde dos estudantes e dos profissionais de educação. Quando questionada sobre a situação estrutural da adaptação, Kelem respondeu que “as visitas técnicas que estão sendo realizadas pela equipe da Secretaria demonstram que uma grande parcela das escolas encontram-se aptas ao retorno. No percentual de não aptas temos as que estão em reforma desde o início do ano e tiveram seu calendário alterado pelo período de distanciamento social. Mas toda a equipe técnica encontra-se empenhada para as devidas adequações conforme as



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