Grupo Nóis de Teatro encontra, nas redes sociais, saída para resistir em meio a crise agravada pela
- Expresso UFC
- 5 de nov. de 2020
- 3 min de leitura
Por Juliete Costa e Vanessa Freire
O grupo teatral Nóis de Teatro completa 18 anos em 2020 e fala sobre as dificuldade enfrentadas ao longo da carreira e como isso se agravou na pandemia

Grupo teatral Nóis de Teatro na apresentação da peça Ainda Vivas / Foto: Instagram Nóis de Teatro
O grupo Nóis de Teatro passou a utilizar as redes sociais como ferramenta de resistência durante a pandemia de Covid-19. No perfil do Instagram do Centro Cultural Dragão do Mar, promoveram, em julho, rodas de conversa, intervenção artística e lives por meio do projeto Siará Quilombo. O grupo teatral realizou um bingo on-line e a festa virtual Balada Fake, em junho, com o intuito de arrecadar recursos para a manutenção da sede localizada no Bairro Granja Portugal.
Durante os eventos on-line, surgiu o experimento cênico Confeitado, realizado em comemoração aos 18 anos do grupo. A peça teatral estreou em agosto e o valor dos ingressos ajudou no aluguel do espaço das apresentações. Os artistas que participaram das ações, cientes das dificuldades enfrentadas, aceitaram a parceria recebendo apenas ajuda de custo. A incerteza de conseguir pagar a sede é um dos maiores desafios do grupo, que tem voltado aos poucos a trabalhar no espaço seguindo os protocolos sanitários.
O Grupo teatral foi criado em 2002, no bairro Granja Portugal, também conhecido por Grande Bom Jardim, em Fortaleza. O Nóis de Teatro é uma referência nacional por seu trabalho realizado em periferias. O grupo possui, em suas criações, fortes críticas sociais e políticas, nas quais carrega grande influência da comunidade em que vive. A sede do grupo tem sido espaço de circulação e produção de bens culturais a partir de um olhar político sobre a sociedade.
“O Nóis é um grande projeto de vida dos oito integrantes do grupo, mas não só. Toda a comunidade, todos os amigos e família do Nóis passaram a ter o sentimento de pertencimento. Afinal, são longos 18 anos resistindo no Grande Bom Jardim, lugar de artistas, trabalhadores e onde a cultura tem uma grande dimensão e proporção na vida de todos. Priorizamos sempre a troca, o intercâmbio e a rede de escambo, pois acreditamos que juntas podemos fazer mais e melhor. Sempre precisamos nos reinventar, do primeiro ano até agora, 2020, vivemos na incerteza do que será o amanhã para nós, fazedores de arte da periferia”, destaca a atriz Amanda Freire, coordenadora de sede e assistente de produção do grupo Nóis de Teatro.

Cartaz de apresentação do projeto Siará Quilombo - Ocupação preta no Dragão / Foto: Instagram/Governo do Ceará
Apesar das Leis de Incentivo à Cultura, não há regularidade na condução de processos a longo prazo de desenvolvimento cultural no Estado. Os editais e projetos geralmente só são concretizados mediante luta da classe teatral e esforço dos artistas. “Estamos sempre ativos no Fórum Cearense de Teatro para reivindicar nossos direitos. Direito à cultura que é tão fundamental na vida de um cidadão ou cidadã. Nosso maior apoio vem do nosso público que nos acompanha e nos apoia nas maiores dificuldades, vivemos tempos em que o artista precisa ser MEI (microempreendedor individual) para conseguir sobreviver e pagar as contas. Enquanto grupo, tudo se torna mais difícil, pois precisamos sempre pensar em manter oito pessoas e não apenas uma, percebemos um enfraquecimento brutal de 2013 para 2020 dos incentivos a grupos teatrais e à cultura em si no país, imagina então no nordeste? ”, explica a atriz.
O governador Camilo Santana sancionou, em setembro, a Lei Aldir Blanc no Ceará, que prevê o apoio emergencial e fomento à cultura cearense. A Secretaria da Cultura do Estado (Secult-Ceará) anunciou, no dia 22 de setembro, que os recursos serão distribuídos em dez editais e chamadas públicas. A medida surge após uma série de debates da Secult-Ceará com a sociedade civil. A Lei Aldir Blanc prevê também a renda emergencial para trabalhadores da cultura e subsídio aos espaços culturais.

Diretor do Nóis de Teatro, Altemar di Monteiro, divulgando a peça Confeitado, feita em comemoração aos 18 anos do grupo / Foto: Instagram Nóis de Teatro
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