A manutenção do ensino remoto nas escolas municipais preocupa professores
- Expresso UFC
- 5 de nov. de 2020
- 3 min de leitura
Professores do Fundamental relatam um baixo retorno das atividades pedagógicas domiciliares
Por Denyse Mendes

Foto: Camila Lima
Em coletiva realizada no dia 30 de setembro, o prefeito Roberto Cláudio anunciou que não retomará as aulas presenciais nas escolas do município no ano letivo de 2020. O anúncio, porém, preocupa os professores sobre a continuidade das atividades remotas, já que a baixa adesão dos alunos nessa modalidade de ensino tem se mostrado alarmante.
Para garantir o desenvolvimento das atividades pedagógicas domiciliares, a Secretaria Municipal de Educação (SME) também anunciou que deve fornecer chips de internet móvel, com franquia de 20GB por mês,
para professores e alunos da rede pública.
O ensino remoto nas escolas municipais
No calendário escolar da rede municipal de Fortaleza, o dia 23 de março marca o início das atividades domiciliares. Desde então, o ensino remoto vem sendo empregado a partir de metodologias diversas.
Fazendo uso de tecnologias do Google, a SME produziu sites para as escolas que contam com exposição de conteúdo e atividades, organizadas por professores e coordenadores, publicadas diariamente. Para os alunos sem acesso à internet, é ofertada a versão impressa dessas tarefas.
Os professores alegam que as atividades disponibilizadas apresentam recursos para facilitar a aprendizagem, como tarefas menos conteudísticas, com textos menores e exercícios mais simples, além de vídeos explicativos para facilitar a assimilação.
Quanto à devolutiva dessas atividades, é feita tanto por e-mail quanto pelo contato direto entre professores e alunos nos grupos de Whatsapp das escolas.
A Secretaria também disponibilizou o acesso integral às ferramentas do Google para que os professores possam usá-las em seus planejamentos de aula. Fica a critério de cada docente incluir tecnologias como Google Forms ou Google Meet na sua prática pedagógica.
O acesso desigual à internet
Um mapeamento da Rede de Pesquisa Solidária identificou que 73,1% dos estudantes de escola pública têm acesso à internet no estado do Ceará. Não há dados específicos sobre a capital, mas o recorte de desigualdade persiste também em Fortaleza.
A dificuldade de conexão é uma variável que não pode ser desconsiderada no contexto educacional, pois as famílias com menor poder aquisitivo são as mais prejudicadas na modalidade remota de ensino, como identifica uma pesquisa realizada pelo IBGE (Pnad Covid19).
Por outro lado, essa mesma pesquisa descobriu que mais de 90% dos estudantes (entre 6 e 17 anos) da rede pública do Ceará tiveram acesso às atividades domiciliares no mês de julho, desde as famílias com menor faixa de renda até as maiores.
Isto pode ser explicado pela distribuição mensal de kits alimentares para complementar a alimentação dos estudantes da rede municipal. A medida também vem permitindo que cada escola mantenha contato com pais e responsáveis, facilitando a entrega das atividades pedagógicas no formato impresso.
As escolas também têm atuado para evitar a evasão por meio do programa Busca Ativa Escolar, voltado para o resgate dos alunos que abandonaram as salas de aula. No período da pandemia, essa iniciativa foi intensificada por coordenadores para garantir o contato desses estudantes com a escola e com as atividades desenvolvidas.
A devolutiva das atividades domiciliares
Não apenas o processo de aprendizagem mas a avaliação educacional também tem sido prejudicada no ensino remoto. Em documento, a SME orienta professores a buscarem avaliações qualitativas, levando em consideração as dificuldades de acesso à internet e as condições trazidas pela pandemia de Covid-19.
O diagnóstico sobre aquilo que foi ensinado e aprendido tem de ser feito, o problema tem sido o baixo retorno das atividades pelos alunos. Segundo uma professora que optou por não se identificar, dos 230 estudantes que possui em suas turmas, apenas 6% deles enviaram por e-mail a resolução das atividades propostas.
Outra professora afirma que o uso do Whatsapp parece aumentar a interação, afinal, é possível repassar as atividades, tirar dúvidas e cobrar a participação dos alunos. Mesmo assim, de suas 11 turmas, com uma média de 35 crianças cada, ela alega ter obtido retorno de cerca de 80 alunos.
A baixa devolutiva dessas atividades pedagógicas é preocupante porque é um indicativo de que mais da metade dos estudantes talvez não estejam acompanhando o ano letivo adequadamente, pondera a professora.
Um professor, que também prefere não se identificar, aponta que mesmo com o esforço feito para buscar os alunos omissos e inseri-los nos grupos de Whatsapp das escolas, há uma espécie de “evasão virtual” desses estudantes, que logo saem dos grupos quando adicionados.
O professor relata que a maior dificuldade não é o método, mas a problemática do acesso, pois as ferramentas que parecem ser mais eficazes pedagogicamente envolvem ainda o uso de internet e de dispositivos digitais.
No fim das contas, os estudantes que mais participam são aqueles que já eram mais dedicados no período de aulas presenciais. Quanto ao restante, esses alunos reproduzem as dificuldades de aprendizagem que possuíam antes, agora na forma do ensino remoto.
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