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As controvérsias da bandeira do Sol Nascente

  • Foto do escritor: Expresso UFC
    Expresso UFC
  • 5 de nov. de 2020
  • 4 min de leitura

Símbolo é associado ao extremismo e traz consigo um histórico de atrocidades na política expansionista japonesa


Por Erico Cardoso


A bandeira militar japonesa, a bandeira do sol nascente, se agita Força Marítima de Autodefesa do Japão ancorado em Yokosuka, próximo de Tóquio. Photograph: Koji Sasahara/AP

Em setembro de 2019, o governo sul-coreano solicitou formalmente às autoridades olímpicas que proibissem a entrada da bandeira do Sol Nascente nos jogos de Tóquio 2020. A bandeira é um lembrete ofensivo das atrocidades cometidas pelo Japão durante sua política expansionista na Segunda Guerra Mundial.


Diferente da bandeira oficial do país, o símbolo imperial possui 16 raios vermelhos que fluem do círculo central. Hoje é usada para representar a Força Marítima de Autodefesa do Japão. Em 1870, no início da Era Meiji - um período de transformações políticas e econômicas devido a expansão japonesa - , a bandeira era usada como símbolo oficial do Exército japonês. O assassinato em massa de, possivelmente, centenas de milhares de pessoas, se tornou um símbolo da tirania do Japão Imperial.


Para os japoneses que não iam para a guerra e não tomavam conhecimento dos horrores praticados, a bandeira significava a resistência contra a ameaça da interferência estrangeira. Apenas em 1946, após a Segunda Guerra Mundial, quando as atrocidades nos campos de batalha foram divulgadas pela imprensa, a reputação dos militares despencou, e com ela a admiração pela bandeira do Sol Nascente. Rodrygo Tanaka, professor de japonês e nipo-descendente, relata a importância de movimentos como o da Coreia do Sul, que pedem o banimento da bandeira, “Não é possível hoje separar a bandeira de tudo o que ela simbolizou durante a Segunda Guerra Mundial. Ela está para as nações que foram dominadas pelo Japão como a suástica está para os judeus” diz ele.


O Japão e a Coreia


Em 1905 o governo japonês declarou, unilateralmente, que a Coreia seria, a partir daquele momento, um protetorado japonês. Em 1910, esse status foi alterado, e a Coreia tornou-se uma colônia formal japonesa. A ocupação atrasou a modernização do país. A maioria da população foi reduzida a um estado de emprobrecimento e anafabetismo. Os coreanos eram controlados por uma força militar que regia a política e os negava liberdades civis básicas. Apenas em março de 1919, o governo japonês suavizou o domínio, após manifestantes marcharem em cidades por todo o país exigindo a independência da Coreia, a data 1° de março ficou conhecida como “Dia do Movimento”.

A dominação tinha motivo exploratório, portanto, muitos coreanos foram submetidos a trabalho forçado para contribuir com a expansão do Japão. O domínio japonês também fez com que centenas de meninas e mulheres trabalhassem em bordéis militares, criados para os soldados japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. Além de coreanas, jovens de Taiwan, China e Filipinas também foram forçadas a serem escravas sexuais.


Portanto, muitos sul-coreanos vinculam a bandeira do Sol Nascente à longa lista de crimes cometidos durante a ocupação japonesa. Eles alegam que a bandeira é levada aos estádios por torcedores que querem romantizar ou apagar da história as violações de direitos humanos cometidas por tropas japonesas no passado.



Protestantes sul-coreanos segurando a bandeira japonesa do sol nascente para comemorar a libertação da Coreia do Sul do Império Japonês. Fotografia: Lee Jin-man/AP

Um símbolo extremista


Hoje a bandeira do Sol Nascente é frequentemente associada pelos japoneses à grupos de extrema direita que consideram a Segunda Guerra Mundial uma “batalha sagrada” e a chamam de “Grande Guerra da Ásia Oriental”. Esses grupos demonstram um novo tipo de nacionalismo no Japão, que nega a autoridade e a validade da constituição pós-guerra. Para eles, a palavra suprema continua sendo a do imperador atualmente o cargo é ocupado pelo imperador Nahurito.


Para esses grupos, a exposição constante da bandeira imperial faz parte de um esforço coletivo para limpar a história da expansão territorial do Japão. Ao aderir ao uso do símbolo, os apoiadores demonstram a crença de que o povo japonês deve ter orgulho da força militar, atrocidades inclusas. Eles tentam restabelecer a honra que um dia o exército japonês possuiu.


Muitos argumentam que a bandeira é um símbolo do passado e que deixá-la de usar seria um exagero, já que tradições são muito importantes na Ásia Oriental. Segundo Rodrygo Tanaka, o uso persistente da bandeira se dá, muitas vezes, pela falta de informação, principalmente em comunidades japonesas fora do Japão.


Tóquio 2020


Com a pandemia do novo coronavírus, a realização dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 se tornou incerta. Em julho, o Comitê Olímpico Internacional anunciou o itinerário das olimpíadas, mantendo os 43 locais de realização de competições.


O comitê propôs que os jogos fossem adiados, uma vez que, em julho, a pandemia ainda não estava controlada. Especula-se que a data final para a resposta definitiva sobre a realização dos jogos aconteça em março de 2021.


Essa é a segunda vez que o Japão ganha o direito de sediar as Olimpíadas. A primeira aconteceu em 1964, 21 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial. Abertos pelo então imperador Hiroito, os jogos foram os primeiros a acontecer na Ásia.


Originalmente, o Japão receberia as Olimpíadas em 1940, mas o Comitê Olímpico Internacional (COI) resolveu retirar de Tóquio o direito de receber essa edição dos jogos, substituindo a capital japonesa por Helsinque, na Finlândia. Isso ocorreu porque o Japão iniciou em 1937 a Segunda Guerra Sino-Japonesa, invadindo a China, em mais um episódio do colonialismo imperialista que tinha a bandeira do Sol Nascente como um de seus símbolos.



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